JORGE BEM ENTRE TEMPOS E NO “ENRE-LUGAR”: UMA VERSÃO ANTROPOFÁGICA PARA IDENTIDADE NEGRA NO BRASIL.
Resumo
Resumo: Entre a fuga da escrava Maria Rita do cárcere do seu senhor ocorrida em 1886 e o sucesso do galã negro Lázaro Ramos que protagonizou, em 2011, a principal novela global do período no papel de um playboy rico e sedutor, o cantor e compositor Jorge Ben alcançou uma posição de grande destaque, nas décadas de 1960 e 1970, na enunciação de narrativas que remodelavam o imaginário nacional. A posição destacada desse cantor e compositor não se deu pelo seu assujeitamento aos papéis sociais ofertados pela cultura branca hegemônica. Pelo contrário, Ben foi capaz de incluir-se sem assujeitar-se. Localizando-se numa matriz de enunciação singular, veremos como suas narrativas musicais foram consideradas por muitos como a expressão do que se buscava para uma identidade brasileira genuína à época. Nesta identidade, o moderno e o arcaico, o estrangeiro e o nativo conviviam em uma complexa fusão, dando formas concretas às aspirações daqueles orientados pela tradição modernista/tropicalista, um exemplo clássico e bem sucedido da antropofagia proposta por Oswald de Andrade décadas antes. Entre duas temporalidades afastadas por 125 anos, Jorge Ben é a manifestação empírica da sinergia necessária que funda um “entre-lugar”.
Palavras-chave: Jorge Ben, identidade negra, antropofagia