NA CONTRAMÃO DA DEIFICAÇÃO DO HOMEM: UMA LEITURA DE NA MORTE DOS RIOS DE JOÃO CABRAL DE MELO NETO

Autores

  • Maria Aparecida Barros de Oliveira CRUZ

Resumo

Em depoimento de 1974, o poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto afirma que há determinadas palavras, como maçã, manga, pão e cadeira, por exemplo, que são bem mais poéticas do que tristeza, melancolia e angústia. Isso porque essas palavras estão inseridas no mundo sensível, são palpáveis, logo, são captáveis pelos sentidos e facilmente compreendidas pelas pessoas, ao passo que as últimas são abstratas. Desta forma, o poeta revela o desejo de produzir uma poesia que, ao mesmo tempo que apela para os sentidos se afasta do abstracionismo, uma lição à moda caeiriana que Cabral leva muito a sério, basta considerarmos o conjunto de sua obra. Na defesa de uma poesia objetiva, Cabral elege a imagem como elemento crucial, responsável por estabelecer com
o leitor o vínculo necessário entre os mundos: o do poeta e o do leitor. Contudo, essa via de compreensão não é dada gratuitamente, ela nos é apresentada por meio de uma sintaxe própria, em que substantivos assumem valor de adjetivos, os verbos são descartados ou minimizados e as palavras se desdobram em múltiplos significados. Tornam-se ásperas, pouco palpáveis, enfim, pedras. Assim, a poesia cabralina esquiva-se de sentimentalismos piegas, do lugar comum típico de alguns poetas, do vazio de imagens. João Cabral publicou vinte livros, nos quais algumas imagens são recorrentes,
como pedra, rio, Sevilha e Pernambuco. Nessa comunicação, que faz parte do projeto de tese intitulado A Representação do campo e da cidade na poética de Cesário Verde e João Cabral, com bolsa Capes, nos propomos a analisar uma dessas imagens a partir do poema Na Morte dos Rios, que compõe a obra Educação pela Pedra, escrita durante os anos de 1962 a 1965. Essa obra é considerada pelo próprio poeta como um exercício de antilira. É resultado da engenhosidade do escritor que afasta da sua produção qualquer resquício da ideia de que a poesia é fruto da inspiração. Considerado o engenheiro da
palavra, Cabral com essa obra comprova bem porque o título lhe ajusta tal qual uma roupa feita sob encomenda. A análise contará com as contribuições de BOSI (2000) e SECCHIN (2007), principalmente.

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Publicado

2017-05-05