O PROJETO ROMÂNTICO REVISITADO PELOS REALISTAS: UMA LEITURA DO CONTO JOSÉ MATIAS, DE EÇA DE QUEIRÓS
Resumo
O escritor Eça de Queiroz é o maior romancista do realismo português, dedicando-se também à escrita de contos, dentre os quais se destacam José Matias, uma de suas últimas obras, que ao lado dos romances é concebida com grande prestígio, apresentando características que a tornam bastante significativa. O objetivo da comunicação é apresentar essas características, elucidando-as de acordo com as escolas literárias, e a sua intersecção com o estilo anterior, pois, como será destacado, o Realismo traz novas visões e conceitos. Os escritores desse período acreditavam na reforma social bem como na construção de uma nova literatura que estivesse mais adequada à realidade. Além disso, alimentavam o sonho de um país livre do ostracismo e da decadência que grassava Portugal, cada vez mais distante do sonho europeu. É nítida, na obra, a apropriação da temática romântica como forma de criticar a mesma, crítica essa que não está pautada apenas na escola literária, como também na construção do perfil romântico, via par materialismo versus espiritualismo. A partir das inferências elucidativas, no conto José Matias, nota-se uma dualidade antagônica entre o narrador, que se evidencia sob os parâmetros realistas e o personagem José Matias, pautado nos
preceitos românticos, como o narrador o declara sendo ultrarromântico alicerçado no viés da imaterialidade, sublimação, subjetividade e espiritualista levando em consideração que no final do século XVIII, há um impasse entre as duas correntes literárias portuguesas, referente ao evocamento feito pelos realistas aos românticos, para que houvesse uma união entre estes, apesar de que os românticos eram considerados exageradamente idealizadores, enquanto os realistas firmavam-se objetivamente na realidade e entendiam que a sociedade portuguesa não se alavancaria de uma hora para outra. Pode-se
perceber dentro da obra José Matias a representatividade de Elisa como sendo realista, apresenta uma nova acepção da figura feminina perante a sociedade da época, uma vez que ela se dispõe a concretizar toda idealização que o personagem constrói em torno dela, e José Matias, como um romântico por excelência, exprime um subterfúgio do eu poético como também uma dicotomia entre a entidade física e espiritual remontando ao amor cortês, promovendo somente uma devoção amorosa que se firma na fantasia do objeto idealizado, ou seja, ele se resguarda de possui-la no plano carnal, o que o leva à
ruina total. A análise contará com as contribuições de Consuelo M. LOUREIRO. O Amor Idealizável em “José Matias”, 1977; Rafael HADODOCK-LOBO. A Estética de Hegel e o Ideal Romântico do Amor, 2010.