GEN PÉS DESCALÇOS: EXPLORAÇÕES A PARTIR DO USO DE QUADRINHOS NA APRENDIZAGEM HISTÓRICA
Palavras-chave:
ensino de história, mangás, aprendizagem históricaResumo
O presente texto parte de uma pesquisa de doutorado em andamento, onde partindo do uso do saber histórico, investigamos as possibilidades de cognição histórica no trabalho com quadrinhos em sala de aula. Aqui analisaremos o quadrinho japonês (mangá) “Gen pés descalços”, uma criada por Keiji Nakazawa publicada no Brasil entre 2000 e 2001 (e que encontra-se em processo de republicação desde 2013) pela editora Conrad. A história de Gen começa no ano de 1945 na cidade de Hiroshima e no seu entorno, onde vive um garoto de seis anos de idade, protagonista da história, Gen, com sua família. Após a destruição de Hiroshima pela bomba atômica, Gen e outros sobreviventes são obrigados a lidar com as consequências do ataque. Este processo e diferenciação da vida cotidiana do personagem principal formam o enredo central do mangá - o que refletem as próprias experiências do autor, Nakazawa, um sobrevivente da bomba. Obviamente, não podemos simplesmente considerar o como documento histórico, ou historiográfico, vide-se que é um produto da indústria cultural, cuja motivação se dá pela sua capacidade de “entretenimento”. Esta junção transforma o quadrinho histórico em ferramenta de trabalho didática que também serve como ponto de discussão do próprio posicionamento da sociedade e da cultura de um povo, habitando um espaço temporal próprio, que interliga o passado e o presente. Então, observaremos como os conceitos meta-históricos, chamados também de conceitos de segunda ordem (RÜSEN, XXXX), marcam a produção das narrativa quadrinizada em “Gen Pés Descalços”. Estes conceitos relacionam as competências de rememoração, interpretação e aplicação do conhecimento histórico na vida prática e possibilitam aos sujeitos produzirem uma narrativa em que articulem dimensões temporais para explicar e interpretar as experiências humanas no tempo: são uma espécie de estrutura das operações mentais do pensamento histórico, dada a sua profunda relação com a base específica do pensamento histórico. Entre eles, podemos citar: explicação histórica, objetividade, narrativa, evidência, empatia, imaginação histórica, compreensão, mudança. Na aprendizagem histórica esses conceitos são mobilizados para se produzir uma compreensão da experiência temporal, elaborando explicações, hipóteses, onde processualmente busca-se identificar e explicar mudanças e continuidade. A partir da análise destes no mangá, sublinhamos uma série de embotamentos e mistificações que, na contemporaneidade, recobrem as relações entre os homens, não só os japoneses (já que tais temais possuem amplitude global, causando forte identificação em sujeitos de outras origens culturais). Partindo desta premissa, o texto propõe um diálogo entre a teoria de quadrinhos e a cognição própria a disciplina de história, da constituição de uma racionalidade fundamentada no sentido de rememorização da consciência histórica. (RÜSEN, 1997), tomando o caso da história apresentada em Gen Pés descalços.