Bom Crioulo: a representação patológica do sujeito gay em Adolfo Caminha

Autores

  • Gabriel Torquato Oliveira UEG - Universidade Estadual de Goiás
  • Alex Bruno da Silva UEG - Universidade Estadual de Goiás

Palavras-chave:

Homoerotismo. Representação. Desejo. Narrativa.

Resumo

Este trabalho pretende analisar como se dá a representação do sujeito gay no romance Bom
Crioulo, de Adolfo Caminha, publicado pela primeira vez em 1895. Partindo do pressuposto de que, nesse romance, o protagonista além de gay é negro e trabalhador braçal, por isso a narrativa apresenta uma diversidade, provocando uma perturbação na sociedade da época e no cenário cultural e literário. A narrativa expõe o desejo homossocial masculino a partir da amizade, esse desejo entre indivíduos do mesmo sexo é visto como abjeto mediante o imperativo heterossexual (BUTLER, 2010), regulador de discursos e do modo de viver as experiências sexuais. O relacionamento homoerótico entre Aleixo e Amaro é abordado de forma velada e a partir de uma visão patológica, já que a ciência predominante na época era marcada pelo determinismo. Nesse sentido, os espaços da narrativa são marcados pela homofobia e o disciplinamento dos corpos. O espaço da marinha, por exemplo, funciona como dispositivo de poder (FOUCAULT, 2008) e representa, na narrativa, as formas de punição e vigilância de uma sociedade regida por discursos científicos, religiosos e pedagógicos que colocam o desejo homossocial como algo patológico. O típico narrador naturalista assume, ao decorrer do romance, um posicionamento discriminatório e preconceituoso referente às práticas discursivas de subjetivação dos protagonistas Aleixo e Amaro. Dessa forma, a homossexualidade é associada a uma perspectiva vexatória a partir de um processo de marginalização das personagens homoafetivas, cujo desejo é condenado pela sociedade da época. Assim, a heterossexualidade compulsória (BUTLER, 2010) nega as subjetividades de sujeitos que destoam da norma, pois tais sujeitos não deveriam existir, sendo estes passíveis de serem extintos, excluídos, expurgados da sociedade. O controle do corpo pode ser lido como um mecanismo de poder que impõe valores e condutas sociais como referência para todas as pessoas. Portanto, o romance de Adolfo caminha explora, mesmo de forma patológica, a relação entre literatura e homoerotismo para se pensar na configuração de uma sociedade que, ainda hoje, estabelece normas e valores excludentes em relação às questões de gênero.

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Publicado

2018-05-22