Emparedado: subjetividade e resistência em Cruz e Souza

Autores

  • Tálita Vicente Parreira UEG - Universidade Estadual de Goiás
  • Alex Bruno da Silva UEG - Universidade Estadual de Goiás

Palavras-chave:

Poesia. Subjetividade. Racismo. Cruz e Souza.

Resumo

Tratando dos traços recorrentes na produção literária de Cruz e Souza, especialmente no que diz respeito ao modo como a condição humana aparece representada em suas poesias, chamam a atenção dois aspectos fundamentais: o distanciamento das doutrinas científicas do século XIX, colocando em cena uma poesia que expressa a dor de existir; a representação de uma subjetividade que pressupõe as contradições da cultura brasileira do referido século. Desse modo, este trabalho objetiva analisar a prosa poética do Emparedado, de Cruz e Souza, como uma prosa de resistência cultural, a qual repudia, na ciência dominante do século XIX, o duplo caráter de precariedade e despotismo. Essa retórica, de base supostamente científica (determinista), aponta a intelectualidade como um problema racial, no qual a raça negra seria incapaz de fazer parte do mundo das letras. Como forma de protesto contra os argumentos da ideologia dominante no discurso antropológico, Cruz e Sousa acusa a ciência ditadora d’hipóteses (BOSI, 2000) de negar à sua raça a capacidade do entendimento artístico e da palavra escrita. No texto do Emparedado, o eu-lírico encontra-se preso entre quatro paredes, emparedado dentro de seus sonhos. Nesse sentido, o poema é um grito de libertação, não da voz de um branco que fala do negro, mas de um negro que por meio de um discurso subjetivo individual, expõe um discurso coletivo. Assim, ao se colocar como emparedado, o poeta trata não apenas de uma subjetividade pessoal, mas reflete a respeito da dor e do sofrimento de todo ser humano. Octavio Paz (1982) defende que a poesia é a expressão plena do ritmo e da sucessão de imagens, enquanto a prosa segue uma linearidade, ligada ao fluxo de ideias. Cruz e Souza consegue, na obra supracitada, apresentar um poema em prosa que explora profundas imagens poéticas, alcançando a reflexão sobre a dor que pode ser de todo ser humano.

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Publicado

2018-05-24