Imagens de “bem falar”, em enunciados produzidos por crianças
Palavras-chave:
Imaginário. Análise de Discurso. Sujeito/Língua. Crianças.Resumo
Neste trabalho, temos como objetivo trazer uma reflexão referente à relação sujeito/língua, discutindo sobre as imagens de língua que constituem enunciados de crianças, procuramos observar qual/quais formação/ões discursiva/s as crianças se inscrevem para atribuir sentido às produções linguísticas com as quais têm contato, nos diferentes espaços sociais em que circulam. Para isso, fundamentamo-nos na teoria Análise de Discurso. Esta é uma teoria que não se prende a regras e à gramática: nela “não se privilegia nem o ‘formal’ nem o ‘conteúdo’, mas a forma material (que é linguística e histórica) do sujeito e do sentido”. O corpus para análise foi constituído por entrevistas com alunos entre sete e oito anos de uma escola pública municipal. Desse material, recortamos algumas sequências discursivas em que observamos marcas linguísticas que são recorrentes, a fim de investigar quais os discursos sobre língua que constituem os seus dizeres. Quando as crianças entrevistadas falam sobre a língua de um lugar diferente daquele em que costumamos ouvir, oferecem uma oportunidade de reflexão e análise para nós que temos o interesse em compreender melhor o imaginário de língua que constitui a sociedade. É de fundamental importância trazermos alguns elementos do imaginário de língua que predomina, que são recorrentes em nossa sociedade, lê-se/ouve-se que “é evidente que alguns falam ‘certo’ e outros ‘errado’, que tem aqueles que “não sabem falar”. Ao longo do trabalho, buscamos discutir os enunciados produzidos pelas crianças que entrevistamos, no intuito de analisar o imaginário de “bem falar”, tendo como referência os fatores que lhe são próprios, assim como os falares de outras pessoas que lhe são próximas. Consideramos que a diferença nos sentidos produzidos pelas crianças, possivelmente, esteja relacionada com duas questões: a) o fato delas terem como grupo de origem pais com pouca escolarização que, consequentemente, não se expressam através da variedade padrão; b) por ainda não terem sido “afetadas” pelo discurso pedagógico que se constitui por uma perspectiva normativista de língua, cristalizadora de padrões de “correção”, pois a Escola, além do núcleo familiar, é um dos principais espaços em que as crianças constroem a sua identidade linguística.