A representação do espaço urbano no romance "Passageiro do fim do dia", de Rubens Figueiredo
Resumo
O escritor contemporâneo Rubens Figueiredo impressiona pela configuração estética no romance Passageiro do fim do dia (2010), no qual o espaço é descrito de forma primorosa. A narrativa constrói o percurso entre o centro urbano e o bairro do Tirol (periferia de uma grande cidade) que representam os elementos que constituem a subjetividade do protagonista Pedro. Esse durante uma viagem de ônibus analisa aspectos do espaço onde transita entre o trabalho e a casa de sua namorada, operando sua consciência na observação que, sem se dar conta, costura as ideias que são responsáveis por mudar toda a sua vida. Ao fim da viagem ele já não é mais o mesmo, pois, através dessa perspectiva, o que vê e pensa durante esse trajeto sobre os fatos de sua vida, seus afetos e o mundo que está imerso, formará um novo conhecimento, mais profundo e crítico, mas que nem por isso o protegerá de uma sociedade opressiva. O protagonista vislumbra aspectos desse espaço por meio de sua subjetividade que contribui, assim, para a configuração do romance, que se estabelece também pelo viés da verossimilhança, o que possibilita a expressividade dos fatos narrados. Nesse romance, o espaço físico pode ser entendido não como uma superfície imóvel, mas sim como um campo simbólico onde várias trajetórias se cruzam e/ou se chocam. Tal entendimento espacial permite não somente o encontro entre diferentes sujeitos, mas também a percepção da alteridade de forma menos hierárquica. Dessa maneira, como uma jornada de autoconhecimento, este trabalho visa analisar a percepção do protagonista e suas memórias confessionais como instrumento de compreensão da representação do espaço urbano na obra supracitada. Para analisar a configuração do espaço urbano e seus efeitos na narrativa, a metodologia parte das discussões de teóricos como Dalcastagné (2012), Lahnen (2015), Pellegrini (2008), Santos (2013), entre outros.