Imagens de presídio e de detentos, presentes em sequências discursivas produzidas por diferentes sujeitos

Autores

  • Thays Oliveira Fernandes
  • Thalia Mendes Lima
  • Elizete Beatriz Azambuja

Resumo

Neste trabalho, objetivamos apresentar resultados parciais alcançados nos projetos de iniciação científica que desenvolvemos e estão ligados à pesquisa intitulada “A unidade prisional enquanto ‘locús significativo’: uma abordagem discursiva”. A referente pesquisa está, de certo modo, vinculada às experiências com a ação extensionista de leitura e produção de texto que realizamos, na Unidade Prisional de São Luís de Montes Belos/GO. O trabalho com os detentos possibilita-nos reflexões sobre a construção de sentidos atribuídos àquele espaço sócio-historicamente marginalizado e a constituição do imaginário referente aos jovens e adultos que estão e/ou já estiveram aprisionados. Em nosso estudo, procuramos compreender os sentidos atribuídos aos sujeitos que se encontram nesse “lócus significativo”, fundamentamo-nos na teoria Análise de Discurso. Para isso, tomamos, entre outros autores, Pêcheux (1975), Orlandi (2015, 2006); Foucault (1987); Varela .  Esta teoria trabalha a relação indissociável entre sujeito, língua e o contexto sócio-histórico e ideológico. Para isso, Nesta comunicação, apresentamos uma reflexão sobre duas temáticas que constituem os planos de trabalho que desenvolvemos. A primeira, a respeito do Massacre do Carandiru, episódio ocorrido na cidade de São Paulo, em 2 de outubro em 1992, quando foram assassinados 111 prisioneiros; a segunda, referente aos efeitos de sentido presentes nos enunciados produzidos por agentes prisionais em entrevistas sobre o próprio sistema carcerário. Para a nossa análise, levamos em conta as regularidades linguístico-discursivas recorrentes nos enunciados, levando em conta as condições de produção do discurso, que se constituem pelos sujeitos, situação de comunicação e o contexto sócio-histórico e ideológico. Desse modo, foi possível perceber as formações discursivas afetadas pelo interdiscurso, constituindo-se pela heterogeneidade constitutiva, presente em enunciados divididos pelo operador argumentativo “mas”, por marcas de negação, por formas linguísticas, em que os agentes entrevistados buscam amenizar as ações que apontam para a violência que, muitas vezes, são resultantes das relações de (abuso de) poder. Sabendo-se que há limitações impostas pela nossa sociedade à produção de discursos, sempre é priorizada a palavra daqueles que são favorecidos economicamente, enquanto a parcela empobrecida, em que se inclui a população carcerária, não tem lugar de fala. Com a nossa discussão, esperamos contribuir para uma reflexão a respeito das formações imaginárias construídas sócio-histórica e ideologicamente que sustentam o preconceito e a exclusão dessa população que, em sua maioria, é composta por jovens, negros, pobres, com pouca escolaridade, brasileiros que, em grande parte, já viviam à margem da sociedade e, quando egressos do sistema prisional, as perspectivas de um futuro com dignidade são ainda muito mais remotas.

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Publicado

2019-08-12