O imaginário de mulher, socio-historicamente construído, na canção “Eu sou problema meu”, de Clarice Falcão: uma análise discursiva

Autores

  • Juliene Moreira Cardoso Silva
  • Elizete Beatriz Azambuja

Resumo

O presente trabalho traz uma reflexão sobre o discurso constituído por um imaginário de mulher, socio-historicamente construído, na letra da canção de Clarice Falcão – “Eu sou problema meu”. Para esta discussão, tomamos como base a teoria Análise de Discurso de linha francesa, fundada por Pêcheux, em que não se considera a indissociabilidade entre sujeito/língua/história e ideologia. O sujeito não é um ser isolado, pois é afetado pela sociedade, a história e a ideologia que circulam em todos os espaços, e seu discurso materializa-se na língua. Para a nossa análise, fundamentamo-nos, principalmente, em Orlandi (2015; 1996), Moraes (2005), Bourdieu (2002) e Foucault (2003), mobilizando, entre outras noções, as de sujeito, língua, ideologia, interdiscursividade, formações imaginárias e contexto sócio-histórico. A nosso ver, na letra da referida música, a autora busca fazer uma desconstrução do conjunto de imagens atribuídas às mulheres, na sociedade, ao longo da história. Para isso, constrói vários enunciados constituídos por uma recorrência à negação que aponta para a heterogeneidade constitutiva. No intuito de compreendermos o funcionamento discursivo da negação, tomamos como base as obras de Indursky (1997), Maingueneau (1991), Pavan (2013) e Henge (2009). Sabendo que tudo o que está no texto é importante para se pensar a discursividade, consideramos imprescindível explorar a negação que se repete por tantas vezes, na superfície linguística da letra da canção analisada (Não me leve a mal/Mas você não me tem/Eu não sou um chapéu/No armário de alguém/Não valho um real...). Nossa análise aponta para o fato de que esta materialidade linguística está produzindo efeito de sentidos inscritos na memória discursiva que remete à objetificação da mulher.

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Publicado

2019-08-12