AULA DE LEITURA: o efeito da proposta colaborativa nas aprendizagens de leitura e compreensão textual

Autores

  • Magda Nazareth da Rocha Ribeiro
  • Gláucia Vieira Cândido

Resumo

Repensar as estratégias de mediação pedagógica é uma forma de realizar balanços críticos e reflexões, não apenas com o objetivo de impulsionar o mérito da educação escolar, mas, especialmente, como forma de buscar transformações carecidas pela sociedade. Exercer a prática docente significa, antes de qualquer coisa, repensar essa prática sem ancorar no tempo, nos moldes ou nas ideias. Candau (2011) afirma “a necessidade de reinventar a educação escolar”. De acordo com a autora, e conforme o que visivelmente se configura no ambiente escolar, uma pluralidade de questões desafiam o sistema educacional e inibe o papel mais básico deste sistema: a veiculação da aprendizagem. Vários leques temáticos, inúmeras frentes e linhas de pesquisa vão se hasteando sobre o espaço cotidiano das escolas no intuito de garantir sua efetiva função. Entretanto, Candau (2011, op. cit.), ao tratar da didática escolar, afirma ter a sensação de que existe um ‘nó’ que nós atores deste campo não conseguimos desatar para que a capacidade analítica e criativa das nossas produções e reflexões conquistem maior relevância para o enfrentamento das questões atuais que a educação escolar e as práticas docentes enfrentam. (CANDAU, 2011. p. 19) Acreditamos que existam muitos “nós” e tomamos um deles para estudo: as habilidades para o desenvolvimento da leitura e da compreensão textual. O presente trabalho tem a perspectiva de observar a relevância da proposta da aprendizagem colaborativa nas aulas de leitura em Língua Portuguesa como língua materna (LM). Partindo dos pressupostos vygotskianos de que a aprendizagem acontece, primeiramente, de forma interpsicológica ou interpessoal e, posteriormente, de forma intrapsicológica ou intrapessoal (VYGOTSKY, 1998), propomo-nos a observar se a realização de aulas de leitura nos princípios da aprendizagem colaborativa contribui com o desenvolvimento do cognitivo dos aprendizes no que se refere às habilidades de leitura. Ao afirmar que a aprendizagem, por meio da interação em pares, favorece a aprendizagem individual, Sabota (2006) faz refletir as considerações de Vygotsky (1998, op cit) sobre a passagem do estágio de “regulação pelo outro” para o de “autorregulação”. Desta forma, a autora instiga-nos a investigar o efeito da aprendizagem de leitura a partir da interação em pares e a conferir se realmente o estágio de “regulação pelo outro” contribui para o estágio de “autorregulação” no que se refere ao desenvolvimento das competências e habilidades de leitura. Nestes termos, é a isto que nos propomos: investigar se a aprendizagem colaborativa favorece ao desenvolvimento das habilidades de leitura dos aprendizes, tornando-os mais proficientes e capazes de ler e interpretar textos, mesmo quando em ocasiões individuais. Os estudos dos pressupostos da aprendizagem colaborativa não é, de todo, inaugural visto que alguns estudiosos como Figueiredo (2006, et al) já investigaram essa proposta no estudo de línguas. Sabota (2006) realizou um trabalho semelhante a este ao qual nos propomos, tomando como objeto de análise a leitura e a compreensão textual, também, nos princípios da aprendizagem colaborativa, porém seu estudo está voltado para as aprendizagens na língua estrangeira, mais especificamente, na língua inglesa. A própria autora reclama a carência de acervos em relação ao tema abordado: Estudos sobre a aprendizagem colaborativa têm sido desenvolvidos em várias áreas dos processos de ensino e aprendizagem de língua estrangeira (LE). [...] Entretanto, ainda não há muitos estudos aplicando a teoria sociointeracionista às habilidades de leitura e compreensão textual em língua estrangeira. (SABOTA, 2006. p. 81-82 apud FIGUEIREDO, 2006). A precariedade ressaltada por Sabota (2006 op. cit.) no que se refere às investigações sobre as habilidades de leitura em Língua Inglesa é fato também em Língua Portuguesa. Pudemos fazer essa observação ao iniciarmos o presente estudo. Vale ressaltar que não nos referimos, aqui, à leitura adquirida no processo de alfabetização, visto que para este nível de leitura parece haver um campo maior de teorias. Referimo-nos à proficiência de leitura no que reflete a condição de letramento dos indivíduos. Outra precariedade, no âmbito da aprendizagem de leitura, que consideramos importante ressaltar é a pesquisa com aplicação prática. Algumas teorias esboçam assuntos gerais de aprendizagens em língua materna, que, é claro, incluem a leitura, mas no que se refere à aplicação prática de ensino de leitura e compreensão textual não encontramos muitos dados a não ser os quantitativos reveladores de que a maioria dos alunos brasileiros dos níveis Fundamental e Médio lê mal por não compreender bem o que lê. (ROJO, 2009). Cafiero (2010) sustenta que “ensinar a ler é ensinar estratégias” e as estratégias são “ferramentas cognitivas que podem ser desenvolvidas por meio de atividades sistemáticas e bem planejadas”. Conferindo a relevância reservada ao planejamento da aula de leitura, como propõe Cafiero (2010), confiamos estimado valor a uma pesquisa aplicada como a que nos propomos executar. A partir de atividades planejadas nos pressupostos teóricos da aprendizagem colaborativa acreditamos na possibilidade não apenas de identificar resultados, mas também de instigar procedimentos práticos respaldados pelas teorias, que há tanto circundam a esfera escolar, mas que ainda pairam nas palavras de seus idealizadores. Nesse sentido, a realização de uma pesquisa aplicada poderá contribuir para que os docentes tomem conhecimentos das teorias a partir de uma observação mais concreta. Quem sabe, consigamos instigar também novas pesquisas, da mesma forma como ocorreu a motivação para realização desta.

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Publicado

2014-12-01