LITERATURA, CIDADE E VIOLÊNCIA URBANA: uma análise comparativa entre as experiências urbanas em O Cortiço, de Aluísio Azevedo e em Cidade de Deus, de Paulo Lins

Autores

  • Jade Cardozo Magalhães dos Santos
  • Ewerton de Freitas Ignácio

Resumo

Esta pesquisa propõe a análise comparativa do espaço urbano, como recurso de grande relevância, quanto à sua representatividade na ficção romanesca, nos romances O Cortiço (1890), de Aluísio Azevedo, e Cidade de Deus (1997), de Paulo Lins. Partiremos do princípio de que, na narrativa de Aluísio Azevedo, é representado o Rio de Janeiro do século XIX, num momento histórico em que a burguesia começava a ter grande representatividade e poder na sociedade brasileira. Junto a esse fenômeno, dava-se a marginalização das classes sociais desfavorecidas, como é o caso dos escravos, de alguns imigrantes italianos, portugueses, entre outros, como os próprios brasileiros que se inseriam na classe operária da época, não havendo muitas oportunidades de crescimento para essa parte populacional, fazendo com que fossem obrigados a habitar os cortiços, enquanto os seus “exploradores” enriqueciam cada vez mais, ganhando títulos e garantias de vida. Já a narrativa de Paulo Lins retrata o Rio de Janeiro do século XX, quando o problema já não eram os cortiços, e sim o complexo das favelas cariocas – sub-habitações com condições mínimas de saneamento básico e segurança ‒, cujos indivíduos, pertencentes às classes sociais desfavorecidas, vão sendo cada vez mais marginalizados de forma violenta, perpetuando a agressividade e a pobreza urbana por meio da história de vários personagens fictícios, mas que foram inspirados na realidade do crescimento do crime organizado na Cidade de Deus entre as décadas de 1960 e 1980. Em O Cortiço, há uma evidente denúncia dos sérios problemas pelos quais a cidade do Rio de Janeiro passava durante os séculos XIX, tais como: os processos de modernização que o governo instaurou com o objetivo de fixar os ideais de progresso e de civilidade advindos das propostas europeias, principalmente da reforma urbanística que o barão Georges-Eugène Haussmann (1809-1891) realizara em Paris (GOMES, 1994). A temática tratada nas obras a serem comparadas versa sobre o fenômeno da urbanização e sobre as histórias de personagens que, em sua grande maioria, são oprimidos pela situação em que vivem; violentados em seus direitos básicos de sobrevivência, controlados por um sistema que os marginaliza, agredindo-os enquanto seres humanos.

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Publicado

2014-12-01