PENSAR UMA EDUCAÇÃO COMPLEXA, TRANSDISCIPLINAR E INTERCULTURAL: religações possíveis
Palavras-chave:
Complexidade, Transdisciplinaridade, Educação Intercultural, Diversidade.Resumo
Amplos, variados e profundos são os questionamentos que atravessam a construção da educação escolar brasileira. Reduzir as discussões é impossibilitar emergências. Este trabalho se insere na permanência do debate, na fusão, com o objetivo de discutir possíveis religações entre a proposta de educação intercultural e o pensar complexo e transdisciplinar na educação. Para tanto, em abordagem qualitativa (ANDRÉ e LÜDKE, 2004), fez-se breve exploração de literatura pertinente a fim de estabelecer conexões iniciais entre os referenciais pesquisados. Fundamentalmente conectada a uma proposta de descolonização (MALDONADO-TORRES, 2009; SANTOS, 2009; GROSFOGUEL, 2009; WALSH, 2007), a perspectiva intercultural na educação propõe repensar multidimensionalmente a escola e até mesmo reinventá-la (CANDAU, 2010a; 2012; 2014; FLEURI, 2003; 2006; SODRÉ, 2012). O pensar complexo e transdisciplinar na educação parte da crítica ao caráter reducionista e fragmentário da ciência moderna ocidental e centra-se no sujeito humano em sua multidimensionalidade, promovendo uma ética de respeito e religação (MORIN, 2003; 2007; 2015; MORIN, CIURANA e MOTTA, 2003; MORAES, 2014; 2015; SUANNO, J. H. 2010; 2014; ALVES, 2014; SUANNO, M. V. R. 2015). A partir de breves apontamentos sobre estas questões, consideramos possível pensar uma educação complexa, transdisciplinar e intercultural como tríade religada: na crítica ao modelo científico e social da modernidade ocidental; na proposição da legitimação de epistemologias subalternas numa ecologia de saberes; na incorporação da dialogicidade e intercâmbio na constituição de identidades e culturas; na compreensão sobre a multidimensionalidade e complexidade dos indivíduos e seus grupos socioculturais; na preocupação com a superação de assimetrias de poder nas relações socioculturais; na ponderação sobre o valor do “outro” e a necessidade de compreendê-lo com sensibilidade e empatia; na concepção da diversidade como princípio fundante da vida e da realidade. Resta aprofundar estas conexões na busca por uma educação que seja humana e atenta às relações de poder sociocultural.
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