EU VOS DECLARO “MARIDO E MULHER”: implicações do discurso religioso para a (con)formação da desigualdade de gênero
Palavras-chave:
Linguagem, Discurso religioso, GêneroResumo
Este trabalho objetiva analisar as implicações do discurso religioso, “Eu vos declaro marido e MULHER”, na (con)formação da(s) desigualdade(s) de gênero. Para isso, fundamenta-se na corrente analítica crítica do discurso, que parte da ideia de língua/gem como prática social (FAIRCLOUGH, 2001), bem como na ideia de discurso como consolidação do imaginário social (CARVALHO, 1987). Além disso, serão consideradas as aspirações das teorias pós-críticas no que concerne à formação de gênero, entendido aqui como constructo social e cultural. A investigação de cunho bibliográfico procura articular o discurso religioso à (con)formação das disparidades de gênero, considerando as implicações e as consequências desse processo nas tramas sociais. Para tanto, faz-se necessário uma pesquisa com base na discussão de Análise Crítica de Discurso (ACD) ou Análise de Discurso Crítica (ADC), que compreende as entrelinhas do discurso religioso como uma prática que reverbera a produção e reprodução dos ideais hegemônicos. Os entendimentos necessários à temática foram evidenciados por autores/as diversos/as, os quais se destacam: Fairclough (2001), Van Dijk (2015), Foucault (1979), Bourdieu (1989), Orlandi (1996; 2009), Leitão (1988) e Moreno (1999). Dentre os resultados encontrados na literatura acenada, pode-se mencionar o poder do discurso religioso como regulatório, normativo, “verdadeiro” e as implicações deste na produção e “encapsulamento” daqueles/as que o acatam e o naturalizam, além do processo de “coisificação” da mulher, da sustentação e cristalização das características “adequadas” para cada gênero. Além disso, há a aceitação passiva e a prática irrefletida dos pressupostos religiosos, tanto por parte de seus/suas representantes, quanto, e principalmente, por parte de seus/as seguidores/as, os/as quais agem de forma a não questionar e acatar pacificamente as imposições inerentes ao discurso.
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