DE SAGRADO A PROFANO E DE PROFANO A HERÓI - O ETHOS DISCURSIVO, A CENA ENUNCIATIVA E A DESCONSTRUÇÃO SIMBÓLICA EM CAIM DE JOSÉ SARAMAGO
Palavras-chave:
Caim, Deus, Ethos, José Saramago, Discurso.Resumo
O embate em torno das relações germinadas entre a literatura e a história é tão remoto quanto à história do homem. Enredos e ficções são edificados por meio de um discurso, em que cada indivíduo, inserido em um contexto sócio-histórico, posiciona-se e organiza subjetivamente a realidade. Diante disso, uma grande quantidade de textos que se amparam de discursos precedentes é produzida, evidenciando o fato de que o homem ampara-se na linguagem para compreender a vida, a história. A ciência e a literatura sempre foram aliadas e misturaram-se, sendo que uma se valida na verdade e a outra da verossimilhança. O homem está evidentemente inserido em um mundo embasado pelos valores do cristianismo. Mediante essa premissa, José Saramago, em seus textos ficcionais, aborda o texto bíblico com uma linguagem essencialmente irônica. A intenção principal da ironia na obra é a desmistificação do absoluto por meio de estratégias proporcionadas pelo modo em que o autor encena a linguagem. Deste modo, neste artigo, propõe-se discutir o ethos discursivo sob a perspectiva da Análise do Discurso na obra Caim (2009), de José Saramago, suas características fundamentais e algumas de suas aplicações e funções. Foca-se nas perspectivas simbológicas, no posicionamento do sagrado e do profano, no gênero discursivo narrativo e os traços essenciais da análise do discurso, enfatizando a cena enunciativa e o ethos discursivo. Baseia-se, principalmente, na vertente francesa e estruturalista, e em autores como Bakthin (2010), Maingueneau (2008) e Charaudeau (2006). Sendo assim, será exposto o dinamismo existente em cada tópico, expondo e exemplificando, sem perder o referencial, e também, estabelecendo diálogos com outras obras do mesmo o autor.
Referências
AMOSSY, Ruth. (Org.). Imagens de si no discurso: a construção do ethos. 2ª ed. 2ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2014.
Aristóteles. Retórica. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1998.
BAKHTIN, Mikhail. Epos e romance: sobre a metodologia do estudo do romance. In: Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. Trad. BERNADINI, Aurora F. et al. 4. ed. São Paulo: Editora UNESP, 1998. p. 397-428.
______. Problemas da poética de Dostoiévski. Trad. Paulo Bezerra. 5. ed. rev. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010.
BÍBLIA, Português. A Bíblia Sagrada: Antigo e Novo Testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Edição rev. e atualizada no Brasil. Brasília: Sociedade Bíblia do Brasil, 1969.
CHARAUDEAU, Patrick; MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de Análise do Discurso. 2ª ed. São Paulo: Contexto, 2006.
CHARAUDEAU, Patrick. Linguagem e discurso: modos de organização. 2ª ed. São Paulo: Contexto, 2014.
DUCROT, Oswald. Le Dire et le Dit. Paris: Minuit, 1984.
KOCH, Ingedore Villaça. A inter-ação pela linguagem. São Paulo: Contexto, 2007. LOPES, João Marques. Saramago - Biografia. São Paulo: Leya, 2010.
MAINGUENEAU, Domenique. Cenas da Enunciação. 2ª ed. 1ª reimpressão. São Paulo: Parábola, 2008.
______. Discurso e análise do discurso. 1ª ed. São Paulo: Parábola, 2015.
______. Discurso Literário. 2ª ed. 1ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2014.
______. Ethos, Cenografia, Incorporação. In: Ruth Amossy (Org.). Imagens de si no Discurso: a Construção do Ethos. São Paulo: Contexto, 2005: 69-92.
MOTTA, Ana Raquel; SALGADO, Luciana. (Orgs.). Ethos discursivo. São Paulo: Contexto, 2008.
SARAMAGO, José. Caim. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
______. O Evangelho Segundo Jesus Cristo. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.