“ESCREVIVÊNCIAS”
PARA ALÉM DE UM CONCEITO UMA QUESTÃO DE INJUSTIÇA EPISTÊMICA NA LITERATURA
Palavras-chave:
PALAVRAS-CHAVE: Escrevivêncas. Injustiças epistêmicas. Conceição Evaristo.Resumo
Propomos, por meio deste artigo, analisar as “escrevivências” da escritora Conceição Evaristo como exemplos de “injustiças epistêmicas” na literatura. Esse termo – “Escrevivência” –, criado por Evaristo, pode muito bem ser compreendido como conceito que discute sobre as trajetórias históricas de afro-brasileiros, criadas a partir do processo diaspórico no Brasil, a partir da qual, as vivências desses ditos indivíduos divulgam, entre o acontecimento e a narração do fato, uma realidade sobre um modo novo, particular de produzir literatura (MACHADO, 2014). Assim, o nosso objetivo aqui é demonstrar, a partir desses relatos vividos, que as injustiças epistêmicas são constituídas em consequência de preconceitos de identidades motivadas por estereótipos negativos que depredam e inabilitam o conhecimento (FRICKER, 2007), de modo que essas injustiças são identificadas na literatura a partir do apagamento da produção literária afrodescendente, no sentido de impedir que os membros dessa comunidade se tornem agentes epistêmicos ao longo dos tempos. Essas questões serão debatidas à luz de um estudo epistemológico, sobretudo, a partir de conceitos que as teóricas Miranda Fricker e Elzabath Anderson trazem sobre “Injustiças epistêmicas”.
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