TECHNÉ, RETÓRICA E POÉTICA
Palavras-chave:
Techné, Retórica, PoéticaResumo
Em "Contra os retóricos", Sexto Empírico argumenta que a retórica não é uma arte (techné) por diversos motivos, entre eles por não ser útil à cidade, já que pode ir contra aos interesses da lei; por não ser verdadeira, uma vez que pode tornar verossímil aquilo que é falso; que não possui uma finalidade, posto que é inconstante, volátil e cambiável. Sexto cita a defesa que os retóricos fazem dela utilizando-se de uma analogia com a pedra de amolar facas que, mesmo desprovida da capacidade de cortar, é capaz de tornar o metal apto ao corte. Assim, mesmo não sendo bons oradores eles podem transmitir essa capacidade aos outros pela arte, ou conforme nos convém, por técnica (techné). Propomos pensar essa analogia relacionando-a a uma passagem do diálogo "Íon", de Platão, quando diz que o rapsodo não é hábil pela arte, ou pela técnica, mas antes o faz através de inspiração divina das musas. Como exemplo, Sócrates utiliza-se da metáfora da pedra magnética que, capaz ela de atrair metais, induz o metal à atração, tornando-o também capaz de semelhante atração desde que submetido aos efeitos de sua influência. Assim o poeta não agiria por "techné", não produziria por conhecimento, mas por inspiração. Nos propomos a pensar as relações entre retórica e poética partindo da leitura dessas duas metáforas que se desenvolvem na reflexão sobre a noção de técnica, tendo como contraponto a teoria sofística de Górgias quando pensa o corpo mínimo do discurso que é capaz das mais divinas obras.
Referências
GÓRGIAS. Elogio de Helena. Trad. Daniela Paulinelli. Belo Horizonte: Anágnosis, 2009.
PLATÃO. “Ião” in: Diálogos Vol. I e II. Trad. Carlos Alberto Nunes. Belém: Universidade Federal do Pará, 1980.