OS ANOS DE CHUMBO
MEMÓRIA, RESISTÊNCIA E VIOLÊNCIA EM AS MENINAS, DE LYGIA FAGUNDES TELLES
Palavras-chave:
Literatura e ditadura, Anos de chumbo, Memória, Lygia Fagundes TellesResumo
O termo “anos de chumbo” refere-se ao período de maior violência e repressão política da ditadura militar no Brasil. Foram anos de grande atuação dos sistemas de controle e manipulação das informações que circulavam na sociedade, assim como das perseguições e torturas de pessoas contrárias ao governo ditatorial. Nesse contexto, muitos artistas produziam suas obras tendo como um dos propósitos contestar, denunciar, testemunhar e resistir. O romance As meninas (1973), da autoria da escritora Lygia Fagundes Telles, pode ser tratado como um sofisticado retrato das tensões sociais e políticas da ditadura e como um registro da memória e da resistência à violenta conjuntura dos anos de chumbo. Com base nos escritos de Paul Ricoeur, Márcio Seligmann-Silva e Alfredo Bosi, este trabalho procura refletir como Lygia Fagundes Telles transpôs para o mundo ficcional a realidade repressiva dos anos de chumbo. Evidenciou-se que, ao mesmo tempo, em que a autora constrói um romance com uma forma estética extremamente complexa ao trabalhar com diferentes técnicas literárias, ela dá espaço para uma escrita carregada de denúncias escancaradas do tempo e da sociedade que presenciou. Dessa forma, destaca-se a importância do registro e resgate das memórias, resistências e testemunhos da ditadura para que as injustiças desse período não sejam esquecidas.
Referências
ARENDT, Hannah. Crises da república. São Paulo: Perspectiva, 1973.
ARNS, Paulo Evaristo (org). Brasil: Nunca mais. Rio de Janeiro: Editora Vozes Ltda, 1985.
BOSI, Alfredo. Literatura e resistência. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
TELLES, Lygia Fagundes Telles. Cadernos de literatura brasileira: Lygia Fagundes Telles. São Paulo, v.5, 1998.
D’ARAUJO, Maria Celina; SOARES, Glaucio Ary Dillon; CASTRO, Celso (org). Os Anos de Chumbo: a memória militar sobre a repressão. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.
FACINA, Adriana. Literatura e Sociedade. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 2004.
FELMAN, Shoshana. Education and crisis. In: CARUTH, Cathy (org.). Trauma: Explorations in Memory, 1991.
FIGUEIREDO, Eurídice. A literatura como arquivo da ditadura brasileira. Rio de Janeiro: 7Letras, 2017.
GINZBURG, Jaime. “Linguagem e trauma na escrita do testemunho”. In: Wilberth Clayton Salgueiro. (Org.). O testemunho na literatura. Representações de genocídios, ditaduras e outras violências. Vitória: Editora da UFES, 2011, p. 19-32.
INSTITUTO MOREIRA SALLES. O escritor por ele mesmo: Lygia Fagundes Telles. Acervo Lygia Fagundes Telles, 1997.
LEVI, Primo. É isto um homem? São Paulo: Rocco, 2013.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948. Disponível em: https://www.unicef.org. Acesso em: 26 jul 2023.
REZENDE, Maria José de. A ditadura militar no Brasil: repressão e pretensão de legitimidade : 1964-1984. Londrina : Eduel, 2013.
RICOEUR, Paul. A Memória, a história, o esquecimento. Campinas, Unicamp, 2007.
RICOEUR, Paul. O perdão pode curar? In: HENRIQUES, Fernanda (Org.). Paul Ricoeur e a Simbólica do Mal. Porto: Edições Afrontamento, 2005. p. 35-40.
RODRIGUES, Vanessa Aparecida Ventura. As marcas da memória na escrita de As meninas de Lygia Fagundes Telles, 2014. 104 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Ciencias e Letras (Campus de Araraquara), 2014.
SELIGMANN-SILVA, Márcio. Literatura de testemunho: os limites entre a construção e a ficção. Letras, Revista do mestrado em Letras da UFSM. Santa Maria, RS, UFSM; CAL, n. 16, jan./jul. 1998, p. 9-37.
SELIGMANN-SILVA, Márcio. A história como trauma. In: SELIGMANN-SILVA, Márcio; NESTROVSKI, Arthur. (Org.). Catástrofe e representação. São Paulo: Escuta, 2000. p. 73-98.
SCHWARZ, Roberto. “Cultura e Política, 1964-1969: alguns esquemas”. In: O pai de família e outros estudos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
TELLES, Lygia Fagundes. As Meninas. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.