ENTRE A LOUCURA E A POESIA
A VOZ DE SUELI REZENDE NOS CORREDORES DO HOSPITAL COLÔNIA
Palavras-chave:
Voz, Loucura, Subjetividade, Poética, PsicanáliseResumo
Este trabalho analisa a marchinha composta por Sueli Rezende, exibida no documentário Em Nome da Razão (1979), durante sua internação no Hospital Colônia de Barbacena-MG. A canção transforma o sofrimento dos pacientes em resistência contra a desumanização. Pelo conceito de voz de Paul Zumthor (2018), a voz de Sueli ultrapassa a clausura física e institucional, articulando uma subjetividade onde o silêncio era imposto. Freud, em O Poeta e o Fantasiar (1908), nos ajuda a compreender a criação artística de Sueli como uma forma de transformar sua realidade insatisfatória e enfrentar simbolicamente o confinamento. O hospital reflete o controle institucional discutido por Michel Foucault (2019), ao impor regras de comportamento e confinamento. Em um contexto de desumanização, a marchinha denuncia poeticamente essas condições, expondo a precariedade do tratamento. Através da linguagem poética, Sueli rompe o silêncio imposto, criando um espaço de resistência e afirmação da subjetividade dos internos frente à exclusão e à opressão.
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