SUBVERSÃO E HOMOLIRISMO NA POÉTICA PIVIANA
Palavras-chave:
Roberto Piva, Homoflaneur, Homoerotismo, Poesia brasileira, Corpos subversivosResumo
O presente trabalho se debruça de maneira introdutória sobre a poesia lírica de Roberto Piva (1937-2010), com foco na obra Abra os olhos & diga ah! (1975). O objetivo é refletir sobre a condição estética e ética da persona poética, que intitulo homoflaneur, em diálogo com o conceito de flâneur (Benjamin, 1989) e flâneuse (Elkin, 2022). A realização amorosa e sexual dessa figura atravessa o contexto urbano e edifica uma poética transgressora que reconfigura e ressignifica a ideia de poder (Foucault, 1999), enfatizando sua atuação como força questionadora e combativa aos padrões comportamentais, sexuais e religiosos hegemônicos e institucionalizados em nossa sociedade. Este trabalho investiga a figura do sujeito homolírico na poesia de Piva, analisando como Abra os olhos & diga ah! se relaciona com o conceito de Homoflaneur. O homoflaneur de Piva é um corpo que caminha pela cidade em busca de encontros homoeróticos, ressignificando o espaço urbano como um território de liberdade sexual e resistência. Em pleno Brasil da ditadura militar, o corpo homoerótico emerge como uma figura subversiva, desafiando as normas repressivas impostas pelo regime. A pesquisa examina como Piva transforma a cidade e o desejo em uma poética que questiona as estruturas de poder, utilizando o corpo como uma ferramenta de transgressão e resistência. Além das características pós-modernas de sua obra, como a fragmentação e a intertextualidade, o estudo também considera como sua poesia se alinha com as discussões sobre identidade e desejo em um contexto autoritário.
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