PERSONAUTORIA
O PERSONAUTOR EM ROMANCES BRASILEIROS CONTEMPORÂNEOS NO ESPECTRO AUTOFICCIONAL
Palavras-chave:
Autoficcional, Literatura brasileira, Personautor, PersonautoriaResumo
Num contexto em que artes e literaturas se expandem em direção a outros gêneros, mídias e suportes, ou seja, em direção ao que lhes é “impróprio”, apostando-se em suas “inespecificidades” (Garramuño, 2014), certas narrativas recentes exploram intensamente os limites entre modos ficcionais e não ficcionais. Nestas narrativas híbridas, por vezes é difícil compreender a relação estabelecida entre autor, personagem e narrador, sendo que parte dos pesquisadores se vale em suas leituras das noções de “escritor-narrador”, “autor-personagem”, entre outras. Estas categorias nem sempre são desenvolvidas conceitualmente, ainda que deem conta de evidenciar a relação problemática entre instâncias tradicionalmente cindidas na leitura de narrativas ficcionais. Propõe-se com este trabalho avançar no desenvolvimento conceitual de uma categoria que coloque em evidência tanto as relações de aproximação como as de separação entre as categorias de autor e personagem. Utiliza-se para este fim a categoria de personautor. A definição provisória de personautor é a seguinte: um autor implícito que veste a máscara do escritor empírico. Nesse sentido, os processos de escrita do autor implícito passam a ser pensados como a personautoria. Elenca-se como corpus de referência romances da literatura brasileira contemporânea que podem ser aproximados pelo ingresso no “espectro autoficcional” (Graciano, 2021). Identifica-se nos posicionamentos dos personautores conformidades com posicionamentos dos autores, sugerindo-se que estas obras incorporam não apenas o autobiográfico, mas também o caráter pragmático do modo ensaístico, potencializando seus efeitos políticos.
Referências
AMARAL, Flora Viguini do. Autoficção e justiça: da liberdade à responsabilidade do autor. Vitória, 2020. Tese. (Doutorado em Letras) – CCHN, UFES.
CASTELLO, José. Ribamar. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.
COLONNA, Vincent. L’autofiction, essai sur la fictionalisation de soi en littérature. Tese de Doutorado. École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), 1989. Disponível em: https://theses.hal.science/tel-00006609. Acesso em: 4 nov. 2024.
DOUBROVSKY, Serge. O último eu. In: NORONHA, Jovita Maria Gerheim (org.). Ensaios sobre a autoficção. Belo Horizonte: UFMG, 2014.
EVARISTO, Conceição. Becos da memória. Belo Horizonte: Mazza, 2006.
FAEDRICH, Anna. Teorias da autoficção [recurso eletrônico]. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2022.
GARRAMUÑO, Florencia. Frutos estranhos. Sobre a inespecificidade na estética contemporânea. Trad. Carlos Nougué. Rio de Janeiro: Rocco, 2014.
GRACIANO, Igor Ximenes. Literatura enquanto gesto. O escritor personagem na narrativa brasileira recente. Tese. Universidade Federal Fluminense, 2013.
GRACIANO, Igor Ximenes. Figurações do secreto: o espaço da escrita na prosa brasileira recente. In: AZEVEDO, L; DALCASTAGNÈ, R. (Org.). Espaços possíveis na literatura brasileira contemporânea. Zouk: Porto Alegre, 2015.
GRACIANO, I. X. Autonomia, pós-autonomia e responsabilidade civil na prosa contemporânea: o caso Ricardo Lísias. Veredas: Revista da Associação Internacional de Lusitanistas, Coimbra, n. 32, p. 112–126, 2021.Disponível em: https://revistaveredas.org/index.php/ver/article/view/673. Acesso em: 4 nov. 2024.
GRACIANO, Igor Ximenes. Autoficção no Brasil: rasuras do termo na produção crítica das contemporaneidades periféricas. Itinerários, Araraquara, n. 52, p. 49-63, jan./jun. 2021. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/itinerarios/article/view/14749. Acesso em: 4 nov. 2024.
LAUB, Michel. Diário da queda. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
LEVY, Tatiana Salem. A chave de casa. São Paulo: Record, 2007.
LÍSIAS, Ricardo. Divórcio. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
TORO, Vera; SCHLICKERS, Sabine; LUENGO, Ana. La auto(r)ficción: modelizaciones, problemas, estado de la investigación. In: TORO, Vera; SCHLICKERS, Sabine; LUENGO, Ana (org.). La obsesión del yo. La auto(r)ficción en la literatura española y latinoamericana. Madri/Frankfurt: Iberoamericana/Vervuert, 2010.
VIEIRA, William. Um corpo no prato: da performance autoral ao canibalismo literário em Divórcio, de Ricardo Lísias. Contramão, Teresina, n. 2, p. 86-109, 2016. Disponível em: https://revistas.ufpi.br/index.php/contramao/article/view/5381. Acesso em: 4 nov. 2024.
VOVOLIS, Thanos. Máscaras acústicas e dimensões sonoras do Teatro grego antigo. Classica - Revista Brasileira de Estudos Clássicos, Belo Horizonte, v. 25, n. 1/2, p. 149–174, 2012. Disponível em: https://classica.emnuvens.com.br/classica/article/view/82. Acesso em: 4 nov. 2024.