“31 DE MARÇO”: UM NÚCLEO HABITACIONAL COMO ENUNCIADO E ELEMENTO DA CULTURA HISTÓRICA

Autores

  • Ben Hur Demeneck Doutorando em Ciências da Comunicação Escola de Comunicações e Artes / USP
  • Thiago Augusto Divardim de Oliveira Instituto Federal do Paraná (IFPR) e pesquisador do LAPEDUH - UFPR

Resumo

Este trabalho propõe a compreensão de logradouros públicos como enunciados e elementos da cultura histórica a partir de leitura inter-relacionada entre as filosofias da História e da Linguagem, e análises de narrativa/enunciados sobre a nomeação do núcleo habitacional “31 de Março” em 1967, na cidade de Ponta Grossa-PR. Para isso, são propostos possíveis pontos de convergência entre a filosofia da linguagem na perspectiva do círculo de Bakhtin (2003) e a filosofia da História discutida por Jörn Rüsen (1994). A aproximação teórica se detém nos conceitos: narrativa, da filosofia da História; e enunciado, da filosofia da linguagem. Do ponto de vista epistemológico essas aproximações são possíveis porque no círculo de Bakhtin (1995) o fenômeno da consciência é percebido de maneira sócio-ideológica, e em Rüsen (2001) como uma formação inerente ao ser humano, portanto que ocorre socialmente. A matriz dessas duas referências encontra-se na compreensão de Marx e Engels sobre a produção da consciência, de que os homens fazem as relações e as relações fazem os homens. As aproximações filosóficas permitiram apreensões heurísticas e análises de fontes sobre a nomeação de um logradouro realizada no contexto da ditadura civil-militar brasileira (1964 – 1985), na cidade de Ponta Grossa-PR, utilizando textos de jornais como enunciados que conferem sentido e significado ao contexto ditatorial. O legado do regime de exceção transparece em narrativas/enunciados 43 nos depois, quando um movimento autointitulado “31 pelo 15” propôs publicamente a mudança do nome do logradouro “31 de Março”, entendido como homenagem a ditadura, pelo nome “15 de Março” data da redemocratização. As ações propositivas de tal mudança evocaram enunciados responsivos e responsáveis em relação às formas de atribuição de sentido ao período ditatorial em questão. Por fim, o trabalho tece comentários sobre a dialogicidade entre cultura histórica e consciência histórica, pensada a partir dos artigos de opinião analisados, para então encerrar com considerações a respeito da importância do debate sobre a ditadura como elemento de construção da democracia.

 

Palavras-chave: enunciados; narrativas, cultura histórica; dialogicidade; consciência histórica

Biografia do Autor

  • Ben Hur Demeneck, Doutorando em Ciências da Comunicação Escola de Comunicações e Artes / USP
    Ben-Hur Demeneck é doutorando em Ciências da Comunicação pelo PPGCOM da ECA-USP e tem seus estudos financiados pela CAPES. Está vinculado à área de concentração "Estudo dos Meios e da Produção Mediática". Em 2010, recebeu o prêmio Adelmo Genro Filho da SBPJor (Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo) por sua contribuição ao campo científico do Jornalismo. Estuda atualmente "reportagem transnacional" sob orientação do professor Eugênio Bucci.
  • Thiago Augusto Divardim de Oliveira, Instituto Federal do Paraná (IFPR) e pesquisador do LAPEDUH - UFPR
    Professor EBTT de HISTÓRIA no Instituto Federal do Paraná (IFPR) e doutorando em Educação na Universidade Federal do Paraná. Possui licenciatura e bacharelado em História, especialização em "Mídia, Política e Atores Sociais" pela Universidade Estadual de Ponta Grossa e Mestrado em Educação na linha Cultura, Escola, Ensino pela Universidade Federal do Paraná. Participou desde o segundo semestre de 2004 até 2007 do Grupo de Estudos de Didática da História (GEDHI), organizado no Mestrado em Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa PPGE-UEPG. Durante a graduação assumiu como voluntário um projeto de Iniciação científica, e também já foi bolsista pelo CNPQ de Iniciação Científica, atuando principalmente nos seguintes temas: didatica da história, aprendizagem histórica, consciência histórica, história e informática, professores de história, e educação histórica. Desde o início de 2008 até início de 2010 lecionou História na rede particular de ensino e foi contratado temporário pelo Estado do Paraná como professor de História. É Professor EBTT de História no Instituto Federal do Paraná (IFPR) e pesquisador do Laboratório de Pesquisa em Educação Histórica da Universidade Federal do Paraná (LAPEDUH - UFPR) desde 2010.

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Publicado

2017-02-08

Edição

Seção

ST7: História e Justiça de Transição: caminhos para Verdade e Justiça