EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS, DESCOLONIZAÇÃO E REINVENÇÃO ESCOLAR

Resumo

No campo social e educacional concretamente multicultural, a escola enquanto espaço educativo é convocada, a partir de pressões sociais e por meio da Lei 10.639/03 e documentos pertinentes, a atuar de modo intencional para auxiliar no processo de positivação das relações étnico-raciais. Neste contexto, o objetivo deste trabalho de exploração bibliográfica é discutir a relação entre educação das relações étnico-raciais, a descolonização e a reinvenção escolar a fim de que a primeira proposta tenha real impacto. A sociabilidade brasileira é historicamente marcada por conflitos relacionados às categorias de raça, cor, etnia, cultura etc., levando a um quadro de desigualdades entre negros e não negros em diversos âmbitos da sociedade. Neste cenário, a escola é espaço de intervenção na tentativa de promover uma formação ética que leve à diminuição de preconceitos e discriminações por meio da relação humana com seus pares. Todavia, a escolarização é herdeira de uma ciência moderna, fundamentalmente excludente e colonialista, como apontam Boaventura de Souza Santos (2009) e Ramón Grosfoguel (2009). Portanto, torna-se um desafio que a educação das relações étnico-raciais tenha verdadeiro impacto numa instituição historicamente formatada para a difusão da “superioridade” do homem ocidental. Parte daí a necessidade levantada pelos mesmos autores de descolonizar o pensamento, fundando uma ecologia de saberes que considere os subalternos como potentes. No âmbito educacional, esta proposta de descolonização epistemológica faz eco à ideia de reinvenção escolar proposta por Vera Maria Candau (2010a; 2010b; 2010c) e Muniz Sodré (2012). Neste raciocínio, para que o multiculturalismo seja não apenas estratégia discursiva, mas fonte para a prática pedagógica positiva, a educação e a escola tem de ser reinventadas, isto é, repensadas e refeitas tendo como bases, meios e fins as diversidades. Assim, propostas como a educação das relações étnico-raciais terão relevância estrutural no espaço escolar e nas subjetividades ali presentes.