Jogos Eletrônicos no Ambiente Escolar: primeiras reflexões
Resumo
Desde os períodos mais remotos da humanidade o homem tem sido protagonista da construção de uma cultura corporal. Inicialmente, essa cultura deu-se por meio da luta pela sobrevivência, pela manifestação do lúdico no comportamento humano e foi se constituindo concomitantemente com a evolução da espécie. A especialização humana em lidar com habilidades corporais evidenciou um aprimoramento do domínio sobre essa dimensão, da qual se pode apontar o surgimento de uma cultura corporal de movimento. Pode-se, ainda, sugerir que esta cultura corporal de movimento vem atendendo aos pressupostos dos grupos hegemônicos, como dos espartanos em que consistia na preparação do corpo para as batalhas; da Revolução Industrial em que o corpo era um instrumento de trabalho visando produção em massa, devendo suportar uma carga horária de trabalho exaustiva; dos métodos de ginástica calistênica baseados na padronização dos movimentos corporais, de forma a contemplar um corpo belo e cheio de vigor. Em qualquer das situações nota-se o uso do corpo de forma acrítica e em função de ideários hegemônicos dos grupos dominantes. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de 1997, destinados à Educação Física escolar, preceituam que a cultura é um conjunto de códigos simbólicos adquiridos desde o momento da concepção do indivíduo e que são reconhecíveis pelo grupo ao longo da vida. São aprendidos enquanto criança e mais tarde introduzidos na vida adulta, da maneira como cada grupo social a considera. A contemporaneidade, por meio da tecnologia, constituiu a geração do Homo Zappiens e as crianças pertencentes a este grupo são capazes de desenvolver várias atividades simultâneas, são impacientes e ensejam respostas rápidas para suas indagações. É uma geração altamente ligada ao computador e aos Jogos Eletrônicos (JE). Autores como Patrícia Greenfield (1988) e Marc Prensky (2012) são categóricos em apontar as habilidades cognitivas aguçadas e a percepção visomotora aprimorada destas crianças. Pellanda (2003) aponta um aprimoramento no condicionamento cerebral advindo daquilo que ele denomina de “novas mídias eletrônicas”, uma vez que aproxima as funções do hemisfério direito (emoção) com as do esquerdo (lógica), colocando em xeque todo o esquema da dinâmica cerebral resguardado por décadas, no qual a associação dos dois hemisférios era concebida assincronicamente e não complementar. O componente curricular Educação Física abrange a cultura corporal de movimento na perspectiva da diversidade dos jogos, esportes, ginásticas, danças, lutas, dentre outros, de forma crítica e contextualizada. Percebe-se que os JE têm se apropriado de uma cultura de movimento similar, na qual reproduzem parte do contexto da Educação Física numa dinâmica imersiva e se antes passiva, atualmente vem mudando por meio dos novos dispositivos de videogames interativos. Os JE podem estar mediando uma nova cultura corporal de movimento, a qual os professores de Educação Física precisam assimilar e incorporar em sua metodologia de ensino. Diante disso, nossa proposta de pesquisa junto ao Programa de Mestrado Interdisciplinar em Educação, Linguagem e Tecnologias (MIELT) caminha no sentido de investigar quais são as mediações que os JE podem estar promovendo acerca da cultura corporal de movimento dos estudantes que os praticam.