Literatura, Cidade e Violência Urbana: Uma análise comparativa entre as experiências urbanas em O Cortiço, de Aluísio Azevedo e em Cidade de Deus, de Paulo Lins
Resumo
O objetivo deste trabalho consiste em realizar uma análise comparativa do espaço urbano nos romances O Cortiço (1890), de Aluísio Azevedo, e Cidade de Deus (1997), de Paulo Lins, sendo que tanto uma obra quanto a outra tematizam os problemas sociais presentes nas sub-habitações cariocas dos séculos XIX e XX, respectivamente. Este estudo bibliográfico possibilita a identificação das possíveis interpretações dos elementos citadinos em obras literárias por meio das descrições da cena urbana, das personagens, de suas falas, de seus pensamentos e de seus comportamentos ao longo das narrativas. Parte-se do princípio de que, no romance O Cortiço, há uma evidente denúncia dos problemas pelos quais a cidade do Rio de Janeiro passava durante o século XIX, tais como os processos de modernização que o governo instaurou com o objetivo de fixar os ideais de progresso e de civilidade advindos das propostas europeias, sendo os cortiços os locais destinados à população que não tinha outra opção de moradia. Em Cidade de Deus, a denúncia social continua existindo, pois a população ainda sobrevive nas mesmas circunstâncias de pobreza, porém em situação agravada pela violência gerada pela criminalidade. Apesar de as obras serem distintas, e da separação de um século, a temática permanece evidenciando o fenômeno da urbanização e de suas consequências, as histórias de personagens que, em sua grande maioria, são oprimidas pela situação em que vivem e violentadas em seus direitos básicos de sobrevivência. Para alcançar o objetivo principal deste trabalho, há três objetivos específicos que norteiam a pesquisa: 1) Averiguar as descrições e o panorama do Rio de Janeiro enquanto espaço urbano e local da representação das obras O Cortiço e Cidade de Deus; 2) Analisar O Cortiço e Cidade de Deus enfocando o fenômeno da modernização, a evolução do tipo de moradia em destaque nas duas obras e os seus influxos na vida das personagens principais; 3) Refletir sobre as evidências de violência no modus vivendi da urbe, e a possível relação desse fenômeno urbano com o tipo de habitação e situação social em que se inserem as personagens. As obras literárias vêm sendo analisadas junto às teorias sobre história da cidade, leitura da cidade na literatura e violência, sendo principais para a pesquisa as teorias de: Berman (1986), Calvino (1990), Duarte (2006), Gil (2004), Gomes (1994), Ignácio (2010), Lefebvre (2001), Marx (1991), Miola (2012), Mumford (1991), Pellegrini (2001), Rolnik (1995), Sennett (1997), Silva (2000), Velho (1975), Viana (2002) e Villaça (2001). A pesquisa pretende contribuir para o aprofundamento do estudo da leitura da cidade na literatura brasileira. Pretende-se também compreender e refletir sobre o perfil sócio-psicológico do homem moderno inserido na cidade, influenciado pelo fenômeno da intensa urbanização, do desenvolvimento da urbe e da constante desigualdade social presente nas cidades. Isso feito há a possibilidade de rastrear as emoções, os símbolos, as ideias e as demais evidências contidas na representação do homem na literatura e, em decorrência disso, compreender melhor sua inserção na sociedade contemporânea, na medida em que viabiliza também a identificação de uma relação entre literatura, cidade, sujeito e violência.