O EFEITO DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS SOBRE O ESTATUTO VARIÁVEL DO IMPERATIVO DE 2ª PESSOA DO SINGULAR NAS CARTAS MINEIRAS (SÉCULOS XIX E XX): UM ESTUDO NO ÂMBITO DA SOCIOLINGUÍSTICA HISTÓRICA

Autores

  • Luiz Fernando de Carvalho UFMG

Palavras-chave:

Modo imperativo, Variação de 2ª pessoa do singular, Carta pessoal, Relação interpessoal

Resumo

Este estudo tem o objetivo de investigar a atuação das relações interpessoais (amorosa, familiar, de amizade) entre os missivistas na variação do imperativo de 2ª pessoa do singular em cartas mineiras oitocentistas e novecentistas (1868-1993). Nesse sentido, à luz da Sociolinguística (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968; LABOV, 1972) em sua vertente Histórica (ROMAINE, 1982; HERNÁNDEZ-CAMPOY & CONDE SILVESTRE, 2012), analisa-se a disputa entre as formas indicativas (deixa/recebe/abre/dá/diz/vai) e subjuntivas (deixe/receba/abra/dê/diga/vá) na constituição do modo imperativo (FARACO, 1982; PAREDES SILVA et alii, 2000; SCHERRE, 2003, 2007; RUMEU, 2016, 2019; CARVALHO, 2020). Os dados, quantificados pelo programa GoldvarbX (ROBINSON, LAWRENCE & TAGLIAMONTE, 2001), atestaram uma predominância do imperativo com forma subjuntiva sobre o imperativo com forma indicativa, mostrando-se significativamente sensíveis à relação interpessoal entre os escreventes.

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Publicado

2022-06-26