VIOLENTOGRAFIA COMO TRABALHO DE VIOLÊNCIA

DESDE PIXOTEA CIDADE DOS HOMENS

Autores

  • Markus Klaus Schäffauer Universidade de Hamburgo

Palavras-chave:

Representações de violência, Violentografia, Trabalho de violência, Transformação e deslocamento

Resumo

As investigações empíricas tendem a subestimar a importância da violência simbólica e sua capacidade de transformar a violência real. Como consequência, também se negligencia o potencial das narrativas de realizar um trabalho de violência, ou seja, um processo em que a violência é deslocada para um nível simbólico, adiando ou relegando, assim, a violência real. Esse conceito pode ser entendido em analogia ao trabalho de luto, pois envolve a transmutação da violência em uma forma simbólica, impedindo sua manifestação imediata no plano físico. Este artigo busca demonstrar esse fenômeno a partir da análise dos filmes Pixote e Cidade de Deus, introduzindo dois novos termos: violentografia, uma designação genérica até então inexistente para nomear a representação da violência em obras simbólicas de modo geral – e não apenas nos filmes analisados –, e trabalho de violência, conceito que descreve o papel da violência simbólica no adiamento ou na transformação da violência real. Por meio da análise dos referidos filmes, argumenta-se que as narrativas cinematográficas não apenas documentam a violência, mas também a exercem simbolicamente, moldando as percepções sociais sobre o tema. Dessa forma, a violentografia pode desempenhar um papel ambivalente: ao mesmo tempo que reflete e problematiza a violência, também pode legitimá-la ou normalizá-la. O argumento central do artigo é, portanto, que uma compreensão mais aprofundada da violência simbólica é essencial para perceber seu papel nas narrativas culturais — não apenas como reflexo da realidade social, mas como um meio ativo de processamento e deslocamento da violência.

Biografia do Autor

  • Markus Klaus Schäffauer, Universidade de Hamburgo

    Markus Klaus SchÄffauer é professor titular na Universidade de Hamburgo (Alemanha) e atua em pesquisas de violência na mídia.

Referências

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Publicado

2025-03-12