A literatura indígena feminina em sala de aula

Resumo

 Este relato pretende apresentar as experiências da inserção da literatura indígena em salas de aula dos últimos anos do Ensino Fundamental, na disciplina Língua Portuguesa, avaliando de que forma a poética de autoria indígena brasileira contemporânea contribui para refletir sobre a pluralidade étnica existente no país e para desconstruir os estereótipos referentes às caricaturas dos povos originários. Levando-se em conta que o currículo da escola ainda é tradicionalmente homogêneo, mesmo havendo leis como a 11.645/2008, apresentar aos educandos perspectivas indígenas de saberes, por meio dos textos literários, caracteriza-se como uma prática pedagógica pautada no pensamento decolonial. Por esse viés, objetiva-se abordar a poética indígena de autoria feminina, oportunizando ao público-alvo conhecer as diversidades culturais que compõem as identidades dos brasileiros, pensando-se como um sujeito envolvido nesse processo de construção identitária, bem como desfazer as caricaturas no que diz respeito aos indígenas, mediante suas epistemes, que foram negadas, silenciadas e desrespeitadas ao longo dos tempos. Para isso, optei por levar para a sala de aula como objeto de estudo o poema “Aldeia”, de Graça Graúna, que faz parte do seu livro Canto Mestizo (1999); o poema “A denúncia”, de Eliane Potiguara, da obra Metade cara, metade máscara (2004); o cordel Coração na aldeia, pés no mundo (2018), de Auritha Tabajara; o poema “Índio eu não sou”, de Márcia Kambeba, do livro Ay kakiri tama: eu moro na cidade (2018); e o poema “Vô Madeira”, de Julie Dorrico. Tal escolha foi motivada por se compreender os textos mencionados como veiculadores das culturas indígenas, o que se nota, por exemplo, pela menção a diversas etnias; somam-se a isso a riqueza estética e uma linguagem combativa que apresenta um viés de denúncia e de resistência.