O DESENVOLVIMENTO DA EJA
Autores
- frança França Zuzino
Palavras-chave:
Desenvolvimento, Educação, Experiência, EJAResumo
Nesse artigo apresento uma síntese da história da Educação de Jovens, bem como algumas características desta modalidade de ensino. Apresento também o perfil dos alunos e algumas características desejáveis ao professor dessa modalidade de ensino. Por fim, comento algumas das experiências vividas por mim, durante o estágio supervisionado, numa sala de aula de 6º ano do Ensino Fundamental, composta por 12 alunos frequentes.
Biografia do Autor
-
frança França Zuzino
O DESENVOLVIMENTO DA EJA
Rafael Zuzino[1] – rafaelxxx@bol.com.br
Uma prévia sobre o ensino na EJA
A proposição de uma educação específica para jovens e adultos é antiga e se constituiu num marco de vários governos brasileiros. Essa modelo de ensino existe no Brasil desde a Constituição de 1934, mas foi na década seguinte que esse projeto começou a se concretizar efetivamente, promovendo a alfabetização de jovens adultos.
Autores como BEISIEGEL (1947), destaca o caráter exemplar da Campanha Nacional de Educação iniciada em 1947, capitaneada por Loureço Filho como política governamental que exprimia o entendimento da educação de adultos como peça fundamental na elevação de níveis educacionais da população.
Mais tarde na década de 1960, o Ministério da Educação organizou o último dos programas de porte nacional desse ciclo, o Programa Nacional de Alfabetização de adultos, o qual adotou as orientações de Paulo Freire. No entanto esta e outras experiências populares desapareceram sob a violenta repressão dos governos na era militar, iniciada na mesma década, especificamente em 1964.
A partir de 1969, o governo brasileiro organizou o MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização). Esse programa propunha oferecer alfabetização à grande maioria dos adultos analfabetos em quase todas as regiões do país. No inicio da década de 1990, o ensino de jovens e adultos criou novas perspectivas mais precisas considerando a magnitude da demanda potencial por essa modalidade educativa. Voltando agora para o foco de análise, as políticas que marcaram esse período, devemos mencionar que em 1990, foi extinta a Fundação Educar criada para suceder o Mobral, logo após a posse do governo Fernando Collor de Mello; o que foi o primeiro presidente eleito, pelo voto direto, após o regime militar.
O MEC desencadeou o Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania (PNAC), com objetivo proclamado de mobilizar a sociedade em prol da alfabetização de crianças, jovens e adultos por meio de comissões envolvendo órgãos governamentais e não-governamentais. Entretanto, as comissões não puderam exercer nenhum controle sobre a destinação de recursos e o programa foi encerrado depois de um ano.
Essa falta de incentivo político e financeiro por parte do governo federal levou os programas estaduais responsáveis pela maior parte do atendimento a educação de jovens e adultos a uma situação de estagnação ou declínio.
Houve sim, um avanço na educação, mas para chegarmos a uma boa margem de alfabetização dessa classe de estudantes, o governo federal deveria investir ainda mais nesse tipo de projeto. O que realmente está faltando para um desenvolvimento melhor desse projeto é a ligação entre o investimento e o interesse de ambas as parte.
Não podemos aqui falar que o governo não investe na educação desses jovens se esses mesmos jovens não se interessarem realmente pelos estudos, por essa segunda chance de aprendizagem deles.
No inicio do século XXI, no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003 a 2006), sinalizou com iniciativas para as políticas públicas da EJA, com maior ênfase do que o tratamento do governo anterior, fazendo com que a EJA tivesse uma pequena melhoria, especialmente com o Programa Brasil Alfabetizado.
Uma dessas vertentes é o Projeto Escola de Fábrica que oferece cursos de formação profissional com duração mínima de 600h para jovens de 15 a 21 anos. A segunda é PROJOVEN que está voltado ao segmento juvenil de 18 a 24 anos, com a escolaridade superior a 4° série (atualmente o 5°ano), mas que não tenha concluído o ensino fundamental e que não tenha vinculo formal de trabalho. Este programa tem como enfoque central a qualificação para o trabalho unindo a implementação de ações comunitárias (CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2006). O terceiro o programa propõe a Integração da Educação Profissional com o Ensino Médio para jovens e adultos (PROEJA), voltado para a educação profissional técnica em nível de ensino médio. Esta vertente busca a escolarização dos adultos que constituem iniciativas ampliadas para a política do EJA, onde se estabelecem ações no sentido de profissionalização (RUMMERT, 2007).
Podemos ver que todos esses programas têm como finidade maior o interesse que esses jovens e adultos estejam aprendendo tendo uma “educação” voltada para o mercado de trabalho. Os jovens terão que produzir para reembolsar o investimento do governo em sua formação, ou seja, nada mais do que um agente do sistema capitalista.
Mas o importante é que de certa forma criou se programas para os jovens e adultos, meio que indiretamente, mas vinculado com o EJA, é o que Gentili, nos mostra quando afirma faz se presente ai, o caráter do capitalismo humano assinalando a força de trabalho tomada como mercadoria na produção de capital econômico(GENTILI,1998).
Então podemos dizer aqui que em toda a história desse Programa para a Alfabetização dos jovens e adultos, nada mais foi que um certo “investimento” nesse tipo ensino visando o retorno econômico. Então eu pergunto, como fica o projeto pedagógico para esses jovens e adultos?
Logo já deveríamos perceber que essa falta de incentivo e de investimento para o ensino desses jovens adultos em toda essa história nos faz refletir com uma analise de que o EJA serve apenas para a certificação, no sentido de escolarização. Ou seja, conclusão de determinado grau de ensino, outra analise, a empregabilidade, porque com um certificado esse jovem e adulto pode ingressar no mercado de trabalho, ou talvez ser reconhecido socialmente, pois ele possui um certificado, ou então quem sabe eleva sua auto estima dentro de uma sociedade preconceituosa? Para concluirmos essa história aqui, devemos sempre lembrar que são esses jovens e adultos que fazem a economia desse país crescer.
O perfil dos jovens adultos e dos professores
Depois de conhecermos um pouco da história, mostrarei aqui um pouco do perfil desses indivíduos, assim como também dos professores que se disponibilizam a lecionar no EJA.
Os alunos jovens e adultos do EJA da rede pública são, em sua maioria, trabalhadores, desempregados, donas de casa, jovens, idosos, portadores de deficiências especiais. São alunos com diferenças culturais.
Para esses jovens e adultos, a escola é um espaço de sociabilidade de transformação social e de construção de conhecimentos sustentado na perspectiva daqueles que aprendem saberes diversos que possuem sentidos e significados. Esses alunos chegam cansados, depois da rotina do seu dia-dia. Muitos são chefes de família ou donas de casa que tem que auxiliar em seus lares, ou idosos que possuem dificuldade para o aprendizado, pois já tem uma “cabeça formada” sobre o mundo.
Esses estudantes do EJA são verdadeiros desafiadores da vida, sempre buscando uma nova chance para alcançarem seus objetivos. Toda regra tem exceções; existem também aqueles jovens que querem apenas conhecer novas pessoas e não estão preocupados com sua formação ou a de seus colegas. Não seria exagerado dizer que cerca de 40% desses alunos estão interessados apenas em conhecimentos que eles utilizarão dia-dia.Com base em minhas observações cheguei a essa conclusão. Como já foi dito, esses alunos são diferentes, pois a maioria é maior de idade e sabe o que realmente procura na escola.
E como o professor encara essa situação? O professor que leciona na Educação para jovens e adultos precisa ser compreensivo, conhecer abordagens e técnicas para prender a atenção desses alunos que são diferentes do ensino regular. Esse professor tem que ser dinâmico com a turma, pois a grande maioria está com a mente cansada depois de um dia de trabalho. Esse profissional tem que ser sempre motivador para que os alunos não parem de estudar.
Esses jovens e adultos estão abertos a novas descobertas, mas o que pode mais despertar o interesse desses alunos é se o professor trouxer algo que está muito relacionado com o universo deles, coisas que talvez não sejam tão emblemáticas, mas que sejam curiosas e prazerosas de se aprender. Para que tenha êxito o professor do EJA, deve possuir inúmeras habilidades que podem aprimorar as suas ações pedagógicas tais como; ter uma boa comunicação, possuir um relacionamento interpessoal e ter liderança; isso possibilita o desenvolvimento de um fazer pedagógico coerente as necessidades do aluno.
É muito importante para o sucesso do aluno que o professor seja como um modelo a seguir. Esse professor deve sempre motivar e mostrar aos alunos que a EJA, apesar das dificuldades encontradas por ambas as partes, é uma educação possível e capaz de mudar significativamente a vida de uma pessoa.
Experiência no EJA
Como estou iniciando minha vida como professor de Geografia no ensino de jovens e adultos, os cinco meses que estou em sala de aula desde a o período de observação, da semirregência e atualmente na regência, posso dizer que está sendo um momento bem favorável para o meu aprendizado como professor.
A escola onde estou lecionando está localizada no setor próximo ao meu, essa escola não possui uma ótima estrutura para esses alunos, pois as “ferramentas de trabalho” que o professor necessita, não está em um fácil acesso, pois a sala é trancada e existe uma burocracia para conseguir esse material.
Até o momento, não utilizei o data show da escola, nem a TV com o DVD, isso me ajudaria bastante para desenvolver minha aula, pois gosto de trabalhar com aulas expositivas. No entanto minha relação com os alunos, com os demais professores da unidade é bastante amigável o que deixa a desejar mesmo, é a estrutura da escola.
Até o momento já me deparei apenas com uma situação desagradável, cheguei para dar a aula e o pessoal todo foi embora. Não perdi a paciência com eles, pois era o último horário creio eu que a maioria estava muito cansado, então o que fiz? Agi profissionalmente. Entrei em sala de aula, sem ninguém por lá apenas eu, e fiquei até tocar o sinal. No dia seguinte conversei com o pessoal, expliquei a importância deles para mim, e também expliquei a importância da Geografia em suas vidas e em seu dia-dia. Fizemos um acordo de sempre nos ajudar. Até o momento os alunos estão cooperando. Desde então não tive problema nenhum com a turma que estou lecionando no meu estágio.
Com algumas conversas papos com os alunos do EJA de onde fiz meu estágio, pude concluir que esses alunos realmente buscam algo melhor para vida deles, nenhum me disse que queria fazer uma universidade, mas que queria sim, fazer algum tipo de curso técnico.
Considerações finais
A educação de jovens e adultos sempre foi relegada pelas políticas públicas. Essa historia foi contada aqui desde a sua criação até os dias atuais. Houve pequenas melhoras e investimentos reais nessa educação que eu chamaria de uma segunda chance para o aprendizado.
O que podemos realmente ressaltar aqui é a luta desses jovens e adultos, juntamente com os professores que se desdobram para que o EJA um dia possa seja valorizado pelas instâncias governamentais e haja, verdadeiramente um investimento digno, tanto na educação regular quanto na EJA.
Referências
BEISIEGEL, Celso de Rui. Considerações sobre a política da União para a educação de jovens e adultos analfabetos. Revista Brasileira de Educação. São Paulo, Jan./Abr. 1999, nº 4, p. 26 -34.
GENTILI, P. O que há de novo nas “novas” formas de exclusão educacional? neoliberalismo, trabalho e educação. In: ______. A falsificação do consenso: simulação e imposição na reforma educacional do neoliberalismo. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.
FRIEDRICH, Márcia; BENITE, Anna M. Canavarro; BENITE, Claudio R. Machado; PEREIRA Viviane Soares. Trajetória da escolarização de jovens e adultos no Brasil: de plataformas de governo a propostas pedagógicas esvaziadas. Ensaio: aval.pol.públ.Educ. vol.18 no.67 Rio de Janeiro Apr./June 2010,
DI PIERRO, Maria Clara; JOIA, Orlando; RIBEIRO; Vera Masagão. Visões da educação de jovens e adultos no Brasil, Cad. Cedes Vol.21 N.55 Campinas Nov. 2001.
[1] Discente do 3º ano do Curso de Licenciatura em Geografia, Universidade Estadual de Goiás, Câmpus de Ciências Sócio-Econômicas e Humanas, Anápolis/GO.