Cultura indígena: 

a História além da sala de aula

Autores

  • Tatiane Borges Oliveira Moura Universidade Estadual de Goiás image/svg+xml

Palavras-chave:

Cultura indígena, Território, Diversidade cultural, Educação, Lei 11.645/08

Resumo

Refletir sobre a cultura indígena implica revisitar a história da colonização e da formação do Brasil, marcada pela presença significativa dos povos originários. A valorização dessa realidade é fruto de lutas sociais e movimentos em defesa dos direitos humanos, que resultaram na promulgação da Lei nº 11.645/2008. Esta legislação tornou obrigatória a inclusão da história e cultura afro-brasileira e indígena no currículo da educação básica, tanto em escolas públicas quanto privadas, representando um marco importante no campo educacional. A lei tem como propósito promover o reconhecimento da diversidade cultural, enfrentar o racismo estrutural e fortalecer a construção de uma sociedade inclusiva. Contudo, após 17 anos de sua implementação, persistem desafios, como a formação insuficiente de professores, a carência de materiais didáticos adequados e a resistência de determinados setores sociais. Diante disso, analisar os avanços e entraves dessa política é fundamental para assegurar que os objetivos traçados sejam alcançados. A experiência vivenciada no curso da Universidade Estadual de Quirinópolis evidenciou o potencial do estudo sobre a cultura indígena como ferramenta pedagógica. Essa prática aguçou o desejo de levar para a sala de aula um trabalho que evidencie as raízes históricas da luta pelo território, pela existência e pela permanência cultural dos povos originários. Ao longo do período colonial até os dias atuais, os indígenas enfrentam o desafio de manter vivas suas tradições, histórias e saberes, reafirmando sua relevância na construção da identidade brasileira. Ao inserir o estudo teórico no cotidiano da sala de aula, oportunizamos aos discentes a possibilidade de analisar, comparar e inferir, de maneira crítica e positiva, contribuindo para o reconhecimento e a valorização das práticas culturais. Essa abordagem permite que o conhecimento não se limite ao campo abstrato, mas se traduza em experiências que dialogam com a realidade social e histórica dos povos indígenas. Dessa forma, o espaço escolar transforma-se em ambiente de reflexão e respeito à diversidade, em que a cultura indígena deixa de ser tratada apenas como um conteúdo isolado e passa a integrar o processo de formação cidadã. Nesse sentido, o ensino torna-se instrumento de conscientização, capaz de fortalecer a identidade coletiva, combater preconceitos e incentivar a construção de uma sociedade mais plural e inclusiva. A proposta pedagógica incluiu momentos de leitura e análise de textos históricos e literários, debates orientados sobre a luta indígena por território e identidade, além de atividades de expressão artística que possibilitaram aos alunos representar, por meio de desenhos, músicas ou dramatizações, aspectos da cultura indígena. Essas práticas contribuíram para que os estudantes não apenas assimilassem conteúdos teóricos, mas também desenvolvessem empatia, senso crítico e reconhecimento da importância dos povos originários na formação do Brasil. Assim, a sala de aula configurou-se como um espaço de diálogo intercultural, no qual o processo de aprendizagem ultrapassou os limites da mera transmissão de informações, transformando-se em uma vivência pautada no respeito, na partilha e na valorização da diversidade. Nesse contexto, sinalizamos o início de uma prática educativa que transcende a lógica tradicional de ensinar, pois busca promover um ensino que vá além do espaço físico da escola e contribua para a formação social crítica. Tal prática objetiva valorizar e respeitar as identidades, os sentimentos de pertencimento, a história, os saberes e as tradições herdadas, sobretudo das culturas indígenas, reconhecendo o papel fundamental dos povos originários que habitavam este território antes do processo de colonização. De acordo com Candau (2012), a educação intercultural crítica deve ser entendida como um processo que favorece o reconhecimento das diferenças e promove relações horizontais entre diferentes culturas, questionando assimetrias de poder historicamente construídas. Nesse sentido, a experiência relatada aproxima-se das reflexões de Walsh (2009), ao defender que a interculturalidade não deve ser reduzida a um simples convívio entre culturas, mas sim compreendida como um projeto político e pedagógico de transformação social. Além disso, retoma-se a concepção freireana de educação como prática da liberdade (Freire, 1996), ao se propor um ensino que fomente a consciência crítica e a valorização dos saberes historicamente marginalizados. Portanto, ao promover práticas pedagógicas que integrem os saberes indígenas e reconheçam suas contribuições na formação histórica e cultural do país, a escola amplia sua função social, assumindo-se como espaço de justiça histórica, respeito à diversidade e construção de uma cidadania efetivamente plural.

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Publicado

2025-10-12

Como Citar

MOURA, Tatiane Borges Oliveira. Cultura indígena: : a História além da sala de aula. Anais da Semana dos Povos Indígenas (SPI), [S. l.], v. 4, n. 1, 2025. Disponível em: https://www.anais.ueg.br/index.php/spi/article/view/16959. Acesso em: 4 nov. 2025.